segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

OS DESENRAIZADOS...


Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos
Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados
Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá longe
onde o suor
se fez pão
virão um dia
ou não

(Canção da autoria de Manuel Freire)

Servindo-nos de intróito esta canção de luta das décadas de 60 e 70, da autoria e interpretação de Manuel Freire, queremos afirmar da sua actualidade nos dias de hoje para tantos, tantos povos…
Na China milhões de migrantes rumaram às zonas costeiras, mais ricas, em busca do “Eldorado”. Muitos desses foram simplesmente enganados por angariadores negreiros ou empresários sem escrúpulos que, depois de se servirem da sua mão de obra, os abandonaram ao destino…
Este fluxo migratório das zonas rurais transformou-se num flagelo dentro daquele gigante asiático… São milhões de desenraizados que labutam de sol a sol em regiões que nada têm a ver com a sua terra natal. Vivem entre o dormitório da fábrica ou da obra e o local de trabalho, apenas parando para dormir e comer… Algumas fábricas criaram algumas infra-estruturas desportivas onde em alguns intervalos, e especialmente ao fim de semana, arranjam algum tempo para um jogo de futebol ou de outra modalidade. Mas note-se que as folgas são poucas e em muitos casos nem existem.
Férias?…Uma vez por ano e somente duas semanas…Estas são as férias oficiais a que tem direito os trabalhadores na China. É evidente que as classes mais favorecidas gozam mais uma semana a seguir ao 1º de Maio (Dia do Trabalhador) e outra aquando do 1º de Outubro – Implantação da China Comunista.
Como é ansiosamente esperado o Ano Novo Chinês! Este acontece com a segunda lua nova do ano… com ele fecham as fábricas e os trabalhadores rumam às suas terras de origem a visitar as famílias e ver mais um filho que entretanto nasceu, desde a visita do ano anterior… Em muitos casos são distâncias percorridas nos mais diversos meios de transporte: comboio, camioneta, barco, táxi-moto e a pé…montanha acima! São horas e horas…por vezes 60 e muitas até chegar a velha aldeia onde um abraço afectuoso os espera…e que saudades eles têm desse abraço! Foram tantas as noites de solidão…
Assim, a 7 de Fevereiro de 2008 festeja-se o Festival da Primavera com a entrada do novo ano chinês que, segundo o seu calendário, seria o ano 4706. O ano que vai entrar será o ANO DO RATO.
Com o aproximar desta data agudizam-se os problemas em matéria de criminalidade, os roubos são mais que muitos e os carteiristas actuam com maior actividade… Tentamos saber a razão e ela veio pronta: Todos querem ir visitar as famílias e festejar o Ano Novo mas…nem todos conseguiram ganhar dinheiro, nem todos tem os “ren-min-bi” necessários para encetar a longínqua visita. E muitos já não fazem essa viagem, simplesmente porque conseguiram trazer as famílias, mas vivem em situação sub-humana nos subúrbios das grandes cidades, invadindo estas durante o dia para a mendicidade mas também para a recolha de lixos…( muito antes de iniciarmos na Europa a recolha selectiva do lixo, já os chineses tinham entendido isso e facilmente víamos o homem que recolhia as garrafas de vidro, o das garrafas e sacos plásticos, o dos papeis e cartões e depois passava a recoveira que levava o resto!
Mas nem tudo é mau… ou melhor a situação está a mudar… A lei de despedimento é uma realidade e as empresas não vão poder despedir sem justa causa… Também a segurança no trabalho e a assistência são duas vitórias da imensa massa laboral chinesa… As multinacionais já começam a sentir dificuldades na abertura de novas empresas pois tantas são a exigências, o que no passado nem era sonhado. E aquelas que já lá estão, bem como todas as privadas e públicas, começam já a pensar e a executar as primeiras reformas.
Afiguram-se-nos melhores dias para os milhões anónimos de trabalhadores chineses, que longe da terra, da família, têm enriquecido grande número de empresas e empresáriose e com eles o País…
Oxalá!

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