quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Um casamento na China...


Para que não seja rotulada de ingrata, manda a tradição que a noiva “chore sentidamente”, mostrando aos convidados a sua tristeza, por abandonar a casa paterna. Só após a “cerimónia das lágrimas” ela será ajudada a subir para o palanquim que, também segundo a mesma tradição, deverá ser vermelho a cor da felicidade, a cor da sorte e da prosperidade…

Estas e muitas outras eram as tradições que na primeira metade do último século, antes da proclamação da República Popular, eram seguidas pelas famílias chinesas nos casamentos das suas filhas, que muito novas eram prometidas aos seus pretendentes.
Hoje a China está mudada e as tradições já não são o que eram. Também outra coisa não seria de esperar a um País devastado por uma guerra civil, pela invasão japonesa na II Grande Guerra e mais tarde com a proclamação da República Popular a 1 de Outubro de 1950 e o atravessar de uma Revolução Cultural que grandes marcas deixou na sociedade e na sua vivência...
Nos dias de hoje os jovens conhecem-se, enamoram-se e resolvem casar... Não como outrora em que os pais é que escolhiam as noivas e os noivos dos seus filhos... (desconheço o que se passa no interior da China, nas áreas rurais ou mesmo no seio das cinquenta e muitas nacionalidades, aí as tradições continuam bem patentes e duradouras...)
Os preparativos começam muito antes da data aprazada para o casamento, que normalmente é fixada em função das datas de nascimento dos nubentes e por vezes até de outros familiares. Para isso é consultado uma espécie de oráculo! Sessões de fotografias são aprazadas em estúdios de luxo, onde os noivos são sujeitos aos serviços de cabeleireiro e maquilhagem, vestindo a noiva vestidos de diversas cores, todos lindíssimos, e ele casacas de grilo ou pomposos uniformes militares, com colares e dragonas! As fotos ficam fantásticas... Parecem tiradas de filmes de Hollywood…
Chega enfim o grande dia. A família da noiva e convidados reúnem-se em casa dela, ou num quarto de hotel previamente marcado, o mesmo acontecendo com o noivo. Mais tarde vão todos para o restaurante onde se realizará a boda em salão devidamente ornamentado para a festa e onde não faltam flores e a cor vermelha, a da sorte, da prosperidade e da felicidade. No topo do salão bem por cima da mesa nupcial o grafismo duplo “SHUANG XI” – DUPLA FELICIDADE…
No exterior do restaurante ou do hotel onde o banquete se realizará armam-se arcos com balões e à chegada dos noivos estoiram-se foguetes e bombinhas. O pai do noivo distribui cigarros aos convivas e depois decorre o banquete em mesas redondas de 10 ou 12 pessos onde são servidos em média uns 10 pratos diferentes... Tudo muito bem regado não só com chá, neste dia é mais cerveja, vinho tinto, cognac… sem faltar o tradicional vinho chinês (aguardente feita de sorgo) com o qual se fazem inúmeros “Gan bei”... O resultado é fácil de adivinhar...

Outros pormenores haverão, que não foram aqui focados mas, quisemos apenas falar neste assunto inspirados que fomos pelos instantâneos que captamos na nossa última estadia naquele gigante asiático…

O início deste artigo foi extraído do livro “A Cor da Felicidade” o primeiro romance da escritora chinesa Wei-Wei.

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