segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Flor de Lótus - parte II

Aproximando-se do vulto, que permanecia mergulhado num sepulcral silêncio, apenas quebrado pelo ligeiro rodar das contas de jade nos seus finos dedos, sussurrou-lhe algo ao ouvido. Flor de Lótus teve um pequeno sobressalto e saindo da letargia em que estava mergulhada, endireitou-se, e encaminhou-se para a mesinha de chá. Enquanto caminhava, uma réstia de claridade iluminou-lhe o rosto e mostrou quão linda e jovem era Flor de Lotus... Não deveria ter contado na sua existência, o florir das cerejeiras em mais do que 25 primaveras... Seu rosto oval era de um branco sedoso e seus olhos de um dulcíssimo brilho. O nariz pequeno e perfeito e uma boca fina cor de carmim... Fácil será deduzir o porquê de lhe chamarem Flor de Lótus... Lua Azul ajudou Flor de Lótus a se sentar numa cadeira de pau rosa com incrustações de madre-perola representando Phoenix voando e depois ocupou de pernas cruzadas a sua almofada vermelha mesmo em frente à sua ama... Lua Azul abriu uma caixa e, com uma pinça de madeira, retirou um rolinho branco que entregou a Flor de Lótus... Esta desenrolou a fina gaze húmida, tépida e perfumada e suavemente a passou pelas mãos.... Entretanto, segurando uma pequena taça de fina porcelana com a pinça de madeira colocou-a dentro de uma taça maior e sobre ela verteu água quente a fim de a escaldar . Depois colocou-a em frente de Flor de Lótus e nela deitou o chá anteriormente guardado no bule... Flor de Lótus segurou a pequena taça com dois dedos e sorveu o delicioso liquido em pequenos goles... De repente elevou a face, olhando Lua Azul, e fazendo ouvir a sua voz doce e cristalina, ordenou: Xiao Lan Hue serve uma taça de chá também para ti! ... e ficara no silêncio, aliás como mtas vezes o fizera... temia errar... não por si, mas pelo outro! Sem saber porquê a felicidade dos outros sempre foi um imperativo basilar da sua forma de estar. Estes prolongados e eloquentes silêncios foram-se tornando constantes com o passar dos anos. Há silêncios necessários! Preferível às conversas entorpecidas de alegrias passageiras, que a faziam sentir mais inepta a cada dia que passava. Percebera que não podia rivalizar com as provações e provocações da vida... Toda a solidão que se possa viver... até então não era nada comparada com a solidão de espírito... sentia-se cega quando tentava visualizar o futuro e atordoada quando olhava para trás... devia partir, no entanto era incapaz... Via a vida como um ciclo. A Primavera volta a cada ano... pinta os campos de verde e varre-os com os seus ventos fortes e puros. E assim deve ser! também o Outono chegará... e sobre os mesmos campos. Pálidos raios de sol, desprovidos de calor derramar-se-ão sobre os campos de águas, que porém não se deixam lavrar